Casca de Noz
A lógica e o absurdo convivem lado a lado nessa aventura chamada Casca de Noz. Inspirada em seis contos de Ítalo Calvino – contidos em “As Cosmicômicas” –, nossa história é uma espécie de ficção científica às avessas – já que aqui tudo gira em torno de um passado cósmico remoto. Os milênios transcorrem como minutos e QFWFQ – o herói dessas aventuras cosmicômicas – acompanha tudo como uma verdadeira testemunha ocular da história do Universo. Ele já estava lá pouco antes do Big Bang, acompanhou o processo de formação da atmosfera na Terra, brincou com átomos de hidrogênio e apostava desde o início que tudo tinha que acontecer.
Casca de Noz coloca em cena quatro enlouquecidos cientistas que seqüestram QFWFQ – um vendedor de nozes em praça pública – e o interrogam de maneira inquisitorial. Será que ele terá mesmo as respostas para as questões mais simples da humanidade? Para onde vamos? De onde viemos? Há futuro após a morte?
Aqui, soturnos postulados extraídos dos discursos científicos sobre a origem do cosmos se transformam em momentos cheios de humor e emoção humana. Com uma comicidade extravagante – que às vezes lembra Fellini, outras vezes Lewis Carroll – QFWFQ vai revivendo diante dos cientistas (seus algozes) encontros e despedidas. Aprende sobre a trapaça no começo de tudo, lembra da inconveniente falta de espaço quando toda a matéria estava contraída num único ponto, perde um amor – essa atração “sexual” entre matérias –, encontra um outro 500 milhões de anos depois (que pode ser o mesmo), metamorfoseia-se em forma gasosa, vê a lua distanciar-se da Terra e vai resgatando nessas metamorfoses o sentimento de afetividade que permearia a história da matéria. Tudo tão grande como uma casca de noz. Tudo tão pequeno quanto um aglomerado de galáxias.
Casca de Noz é assim. Fantasia. Filosofia. Imaginação poética. E muito bom humor.
Paulo de Moraes (diretor e co-autor)
Fotos
Críticas
“A montagem de Paulo de Moraes, traduzindo com inventividade e sensível toque poético as narrativas de Ítalo Calvino, conserva o espírito lúdico do original, ampliando a base cênica do humor ingênuo no oportuno uso de variadas técnicas teatrais que resultam em espetáculo conciso e envolvente. (...) Patrícia Selonk pulsa na sintonia do contador de histórias brincalhão, histriônico e conhecedor de mundos. Um belo trabalho.”
Italo Calvino inspira bela encenação
Macksen Luiz (crítico de teatro, Jornal do Brasil)
“(...) o espetáculo cativa inteiramente a platéia. Antes de mais nada, graças às inventivas soluções encontradas por Paulo de Moraes, sem dúvida um dos mais brilhantes encenadores contemporâneos. Como de hábito, o diretor cria uma dinâmica cênica repleta de fantasia e lirismo, aqui acrescidas de passagens de irresistível humor. (...) Na pele do protagonista, Patrícia Selonk brinda a platéia com uma atuação inesquecível.”
Jornada cósmica repleta de humor, lirismo e fantasia
Lionel Fischer (crítico de teatro, Tribuna da Imprensa)
“Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes criaram um grupo de cientistas — eles mesmos perplexos, deslumbrados ou perdidos diante do panorama eternamente cambiante da pesquisa e do conhecimento — que dialoga com Qfwfq, que sabe de tudo desde antes do Big Bang porque já estava lá (e acompanhou toda a evolução do universo, desde então, com certo ar maroto, pois por alguma razão já sabia de tudo o que viria a acontecer). Com este artifício, os adaptadores conseguem transformar a narrativa em ação, o já sabido em descoberta, aproveitando muito bem os incontáveis jogos de palavras de Calvino para manter sempre presente o humor da física, que tem qualquer coisa de brinquedo infantil, bem como uma forte dose do onírico que permite toda a visão. A empreitada era de grande porte, e é preciso admitir que o resultado é denso, exigindo muita atenção para poder ser devidamente compreendido e, portanto, apreciado.
Restava ainda a efetiva transposição cênica, e a cenografia de Paulo de Moraes e Carla Berri é muito sugestiva ao fazer do piso da arena do Teatro Maria Clara Machado (ex-Planetário) um mapa, porém um mapa que é também um jogo de armar, que exigiria, para ser composto, tanto intuição quanto conhecimento.
(...) A direção busca tons e movimentos que possam manter o universo do espetáculo entre o real e o sonhado, com todas as vantagens de quem trabalha com um grupo coeso e acostumado a interagir entre si (tanto de diretor para atores quanto de ator para ator). E o resultado é um rendimento muito firme de todo o grupo. Se Patrícia Selonk, no papel de Qfwfq, destaca-se por ser a mais exigida, Simone Mazzer, Liliana Castro, Fabiano Medeiros e Sergio Medeiros estão igualmente bem, todos transmitindo um real domínio da dimensão de significado contida no diálogo tantas vezes brincalhão e gozador.
A Armazém Companhia de Teatro mais uma vez comprova o quanto tem sido profícuo para o teatro do Rio o transplante desse grupo que veio do Paraná, gostou e ficou, sempre fiel à sua pesquisa de linguagens cênicas.”
Calvino levado a sério
Bárbara Heliodora (crítica de teatro, O Globo)
Ficha Técnica
Livre adaptação da obra de Ítalo Calvino
Direção: Paulo de Moraes
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Elenco:
Patrícia Selonk (QFWFQ)
Simone Mazzer (Senhora Ph(i)nk + G’D(W)N)
Sérgio Medeiros (K(y)k + Mendigo)
Fabiano Medeiros / Marcelo Guerra (VHD VHD + BABA’B + AYL)
Liliana Castro / Simone Vianna (XLTHLX + Zuzu + PIBERBIT)
Iluminação: Paulo César Medeiros
Cenografia: Paulo de Moraes e Carla Berri
Figurinos: Carla Berri e Stella Rabello
Trilha Sonora: Paulo de Moraes
Projeto Gráfico: Alexandre de Castro
Fotografias: Mauro Kury e Léo Bittencourt
Produção Executiva: Flávia Menezes e Joana D’Arc Costa
Patrocínio: Petrobras
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Turnê
Rio de Janeiro
São Paulo
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Angra dos Reis
São João de Meriti
Nova Iguaçu
São Gonçalo
Nova Friburgo
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